Uma pesquisa da Plenapausa, femtech brasileira, mostra que 89% das mulheres se sentem instáveis emocionalmente durante a menopausa, enquanto 82% ficam deprimidas e ansiosas. Além disso, mulheres nesse ciclo da vida têm mais que o dobro de chances de desenvolver transtorno bipolar.
Neste 18 de outubro, dia Mundial da Menopausa, a psicóloga Elaine Lima, especialista em Gestalt-terapia e Terapeuta de Mulheres, chama atenção para os cuidados com a saúde emocional para melhorar a qualidade de vida.
“Emerge a necessidade de investirmos no nosso autocuidado. E quando eu falo de autocuidado, não é cuidar apenas da aparência, é cuidar dos aspectos emocionais, porque a gente também não pode romantizar a menopausa nem o processo de envelhecimento. É um processo desafiador, não é fácil. Então, [devemos] olhar para esses aspectos emocionais e cuidar da maneira como nós gerenciamos as nossas emoções, investir em um processo de autoconhecimento, porque isso nos empodera e nos prepara para gerenciar de maneira mais saudável as nossas emoções.”
Descontrole hormonal
A professora Alessandra Gomes, de 50 anos, moradora de Brasília (DF), está enfrentando a menopausa neste momento. Ela relata alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, e, por isso, buscou acompanhamento com profissionais de saúde.
“É uma ansiedade em relação a tudo, ao trabalho, à família. Eu não consigo dormir à noite. Eu sinto medo de fazer as coisas que eu mais gostava. Em relação à tristeza, é uma depressão mesmo, mas não pelo fato de eu estar entrando na menopausa, é a parte hormonal mesmo que eu senti que afetou. Eu tenho acompanhamento psicológico e com psiquiatra. Eu estou indo em uma endócrino e fazendo a reposição hormonal e já estou melhorando.”
O doutor em endocrinologia clínica Flavio Cadegiani explica que a menopausa marca o fim da vida reprodutiva do sexo feminino, definida como a “última menstruação”. Segundo o endocrinologista, as mulheres precisam ter consciência de que a falta de cuidados ou até conhecimento sobre o assunto afetam de maneira significativa a saúde mental e física, com sintomas que podem incomodar bastante neste período.
“Podem ocorrer ganho de peso, por haver uma queda abrupta no metabolismo; depressão; distúrbios do sono; asma pós-menopausa; secura vaginal, com dores no ato sexual; e até mesmo osteoporose.”
Além disso, segundo a psicóloga Elaine Lima, a própria mudança hormonal é capaz de provocar uma instabilidade emocional.
“Além disso, contribui para quadros de depressão e ansiedade que muitas vezes já eram pré-existentes e estavam mascarados e, nesse período da vida, eles vêm a luz e ganham uma proporção maior, ou seja, não tem mais como negligenciá-los”, explica.
Tabu
Segundo um levantamento da empresa de higiene e saúde Essity, 70% das brasileiras não estão preparadas para a chegada da menopausa e 55% não gostam de falar sobre o assunto por ser ligado à velhice e à "deterioração" do corpo.
A psicóloga Elaine Lima diz que observa esse comportamento no consultório. Na avaliação da especialista, na cultura ocidental, a menopausa está associada à velhice e à deterioração do corpo.
“Na nossa sociedade ocidental, que é machista, patriarcal, consumista, capitalista, que valoriza a jovialidade e a beleza, envelhecer e entrar na menopausa vai ser algo muito mal visto. Existem muitas crenças distorcidas em relação à mulher mais velha, que ela é chata, seca, fria, mas a mulher que está envelhecendo enfrenta muitos desafios e talvez essa oscilação de humor, essa instabilidade emocional, é muitas vezes interpretada de forma negativa.”
“Existem muitos preconceitos, ainda é um tabu, na minha percepção, porque nós ainda não rompemos todas as barreiras no sentido de trazer essa temática para as nossas rodas de conversa, para o nosso dia a dia, para as reuniões em família. Como combater esse tabu? Eu acredito que o primeiro passo é por meio da informação. Então, falar sobre essa temática, os espaços que estão dando abertura para inserir esse tema proporcionam a nós, mulheres, e aos homens também, a possibilidade de ampliar o nosso conhecimento sobre esse assunto”, orienta.
Paloma Custódio
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